quinta-feira, 8 de outubro de 2015

EU NÃO VIM AQUI SÓ PRA COMER



                   



Fui convidada para uma festa de casamento.
Em mais um capítulo de malandragem e estelionato, a festa era um engodo. Faltaram: decoração, música, cadeiras, mesas, buffet, garçons, bebidas, toalhas, pratos e  talheres... – os noivos levaram um cano.
Mas quem é que se importa com um monte de panos espalhados??? Só enfeites!!! Que importância REAL têm estes materiais na festa? E a comida? A bebida? O que é mais importante?
De olhares esbugalhados e bocas dissimuladas, a maioria dos convidados saiu de fininho! Sem ter o que comer e beber, não tardaram a desertar. Afinal, era preciso espalhar a notícia do ocorrido, como se fosse um furo de reportagem. Com ares de falso pesar, homens e mulheres se afastaram à francesa. Restaram poucos. E estes se empenharam em resolver o problema.
O rega-bofes foi, finalmente, preparado para quem? Para os amigos ou para aqueles que não se importam senão em comer, beber e futricar??? Quem merece a festa, afinal? Quem merece, certamente, tem competência para fazer sempre melhor...
Conseguimos alguma carne, no açougue de um conhecido. Fizemos uma vaquinha pro carvão e garantimos o churrasco. Como todos nós temos amizade com algum dono de boteco, foi moleza conseguir cerveja e refrigerantes gelados, no capricho! Servimos a nós mesmos durante a comemoração, em clima de galhofa e alegria. Mais tarde, chegou uma tia do noivo, trazendo caldeirões de caldos: canjiquinha, rabada e vaca atolada.
Aplausos. Muitos aplausos!!!
Chegou um conhecido com um violão!
Foi a melhor festa de que tenho registro em minha memória.
Sentados em volta de uma fogueira, exaustos de tanto improviso, vimo-nos intensamente plenos ao afirmar e viver nossa amizade.

Durante a noite, da fogueira acesa com a madeira que nos dá nome, suspiros de calor vão se esvaindo:

B R A S I L                ardendo e queimando
     L I S A                   aumente o fogo
 L I B R A S               não se venda por tão pouco
    I R A S                               ...
   S A R I                                por Ghandi, resista...
S   A   L                           atreva-se a temperar o mundo.
      B I S

Leia-se tudo de novo!

A fogueira pede BIS!

Fui convidada a reencarnar/nascer no Brasil. Em mais um capítulo de malandragem e estelionato, a festa era um engodo.
...

No Brasil vai ser assim. Quem ficar por amor, quem não veio só pra comer, vai se dar bem no final. O problema é que o brasileiro veio se preparando – há mais de quinhentos anos – para uma festa de panos, espelhos, apitos, chapéus... Quem restar, verá! Quem ousar participar, será protagonista de uma história, ou melhor, da História.


Izaida Stela do Carmo Ornelas




terça-feira, 8 de setembro de 2015

Que valores são mesmo de valor? A que valores você dá valor?







Minha geração forneceu os protagonistas de todas estas palhaçadas que vemos nos jornais: lava-jato, mensalão, propinoduto, entre outras menores, corriqueiras, mas não menos criminosas.

É que minha geração teve uma criação muito estranha. A maioria de nós foi criada “pra levar vantagem de tudo”, achando bonito “dar manta” nos outros, aceitando como verdades absolutas tudo o que nos era dito pelos “mais velhos”. Respeito irrestrito, irresponsável e irracional a pais, avós e “similares”.

Aquele parente caloteiro tinha que ser recebido em nossas casas com toda cerimônia, servido com o melhor jantar, etc. Ao mesmo tempo, éramos alimentados com o pior exemplo possível. A autoridade corrupta recebia louros, afilhados, nome de rua e se sentava à cabeceira das mesas das melhores famílias. Sem que houvesse protestos em nenhum jornal. Muitos pedófilos tinham lugares garantidos nas festas de família, enquanto o núcleo abusado não comparecia ao evento, simples e silenciosamente. Dolorosamente. Não nos faltam exemplos. Acho que cada um pode acrescentar um “causo” dessa prática.

Alguns de nós conseguimos quebrar - em parte - esse círculo vicioso, criando nossos filhos à luz da razão, com noções melhoradas de dignidade e ética. Talvez porque sofremos demasiado a dor da vergonha alheia. Também porque fomos criando uma revolta produtiva contra esses disparates que se desenvolviam à nossa volta.

Marcelo Odebrecht, ao discorrer sobre a delação premiada, exemplifica a continuidade dessa criação: “Quando lá em casa minhas meninas brigavam eu perguntava ‘quem fez isso?’ Eu talvez brigasse mais com quem dedurasse”. Ele incorre num juízo esvaziado de valor: não importa o que foi feito, não importa a causa; só as consequências merecem destaque.

Na mesma linha de raciocínio, temos o velho ditado: “Quem fala a verdade não merece castigo.” Tratando a causa: quem fala a verdade, “desde sempre”, não fará nada que possa merecer castigo algum. O problema é saber o que é verdade, no meio de tanta falácia. Tenho dito.


E as perguntas continuam em aberto:

Que valores são mesmo de valor?
A que valores você dá valor?




Izaída Stela do Carmo Ornelas



sexta-feira, 14 de agosto de 2015

NININHA






Minha avó materna, Maria Izaltina, era uma pessoa de muitos nomes. Para os filhos, minha mãe; para aos netos, Dindinha; para mim, Nininha. 
O sobrenome dela varia na certidão dos dez filhos que teve: de Jesus, Gomes e Moreira. Sua personalidade forte fazia com que suas ações fossem diferentes das ações das mulheres de seu tempo. As muitas histórias dela são necessárias. Sim! São necessárias para os dias de hoje!

A primeira
Uma de suas filhas não comia quiabo. Mesa posta, na casa da comadre: uma panela de frango com quiabo... Minha avó desculpou-se com a amiga, avisando que a filha não comia quiabo. “Como, sim!” – corrigiu a menina. Nininha ficou quieta. Quando chegou em casa, mandou buscar quiabo na horta, matou uma galinha e chamou a filha pra jantar. “Não como quiabo, minha mãe. A senhora sabe...” - afirmou a mocinha. “Come, sim! Tá de lamber os beiços!” – falou por entre os dentes, usando um tom de voz quase debochado, que combinava muito bem com o olhar azul educador. Chamou os outros filhos para ver. Não para comer, porque aquele frango era somente para a atrevidinha. Nenhum de seus filhos virou mentiroso ou falsário.

Segunda
Visitando outra comadre, o filho da dona-da-casa era uma verdadeira pestinha. Chutou as canelas de Nininha, bateu num de seus filhos, quebrou seu guarda-sol... Quando a comadre se distraiu, o moleque disparou a fazer caretas, mostrar a língua e toda sorte de disparates. Nininha chamou o menino e deu a ele um “agrado”: dinheiro o suficiente para uma boa quantidade de doces. Esclareceu: “Que lindo! Nunca tinha visto um menino tão engraçado e talentoso assim! Aposto que se você fizer isso sempre, todas as outras visitas vão te dar até mais dinheiro do que eu!”. Quando a comadre veio à casa de Nininha, “pagando” a visita, soube-se que o moleque havia apanhado bastante e estava de castigo, por conta de traquinagens. Sempre soubemos a verdade: por conta de Nininha! Nenhum dos dez filhos se esqueceu de recontar este caso aos netos dela.

Terceira
Retornando do velório de um parente, notou que um dos filhos trazia um brinquedo que não lhe pertencia. “Apertado”, ele disse que havia encontrado o carrinho no terreiro da casa do morto. Mesmo sendo já noite, fez com que o rapazinho levasse de volta o objeto e recolocasse no mesmo lugar onde havia encontrado. Claro que meu avô foi atrás, vigiando sem o filho perceber. Mas nenhum de seus filhos virou ladrão.

Saudades do tempo em que dignidade era a lei.



Izaida Stela do Carmo Ornelas
Na foto acima: Madrinha Iracy, Nininha e minha mãe.


terça-feira, 4 de agosto de 2015

MUÇULMANO








Eu conheço um muçulmano.
E não faz nenhuma diferença... Ou melhor, não deveria fazer... Não deveria ser “pitoresco” o fato de se conhecer um ser humano. Mas a história da humanidade é assim mesmo. Alguns séculos atrás era notável quando algum branco afirmava conhecer um negro ou um índio “pele vermelha”, como se fosse algum animal exótico. Jesus! Continuamos agindo da mesma forma ridícula, tomados por modos “modernos”!
Faz diferença o fato de haver conhecido um humano sensível, digno, preocupado com o próximo! Conheço um humano.
Humano.
Por ser espírita, já me “acostumei” a ser vista com preconceito e a ter minha personalidade estereotipada por aí (kkkkkkk). Infelizmente, para quem age assim. Mas, por outro lado, já aprendi pelo menos a tentar não usar o preconceito para lidar com outros seres humanos, desde que tenham bom caráter.
Para quem não conhece ainda um muçulmano (sic), vale uma pesquisa no site da religião dele: www.sufinaqsh.com . Depois, repensar a sua opinião. 
A minha é: Ninguém conhece ninguém.


Izaída Stela do Carmo Ornelas



PS. - Este mesmo texto pode ser lido novamente, substituindo-se a palavra muçulmano  por outra que seu preconceito ditar: gay, prostituta, aborígene, etc. etc. etc.





domingo, 28 de junho de 2015

DECEPÇÕES E PERCEPÇÕES







A aprovação do “Casamento Gay” pelos Estados Unidos gerou uma polêmica arco-íris nas redes e rodas sociais. Parece mesmo o tempo dos corta-goelas “versus” fura-nucas na política divinense. Êta povo que gosta de um cabo-de-guerra! Tem que dividir e puxar... Sempre. E não se cansam!
Lembrei-me de um acontecido, no tempo em que os animais falavam. Durante uma conversa qualquer, uma amiga elogiou bastante determinada pessoa, dizendo que o(a) considerava feito um(a) filho(a). Quando fui apresentada a esta pessoa, contei que nossa amiga em comum o(a) havia elogiado muito, etc.. A reação da pessoa foi dizer que gostava dela demais(sic), mas: “não tenho nada com os problemas do filho dela, não”. Fui saber: o filho dela é homossexual. Fiquei pasma com aquela resposta. Que decepção! Indignação também. Mas tudo bem... Tem sempre esses que se dizem cristãos, mas não querem ser confundidos com outros filhos do mesmo Pai. Paciência!
Quando eu ia à missa, gostava quando o padre dizia: “não olheis os nossos pecados, mas a fé que anima a vossa igreja.” E amei as declarações acolhedoras do Papa Francisco em relação a mães solteiras, casais divorciados e homossexuais. Como dizem lá no Facebook: “Esse Papa me representa!”
Para quem está digladiando ideologias, um lembrete: a lei não obriga ninguém a se casar com outra pessoa do mesmo sexo. Apenas permite. O Direito apenas reconhece o que de fato já existe muito antes de Cristo... Se é certo ou errado, “não julgueis”. Vamos reconhecer primeiro a trave de nossos olhos. Afinal, deve ser pior – aos olhos do Cara Lá de cima - usar a língua pra criar discórdia do que usar partes alternativas pra criar amor.
Para essa pessoa tão “amiga”, fica a dica:
- Respeito – até – sua homofobia. Mas não admito – jamais – sua ingratidão.


Izaida Stela do Carmo Ornelas

PS – Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é apenas coincidência. 



sábado, 16 de maio de 2015

INDIGNAÇÃO






Todo fato que nos sensibiliza e nos põe em movimento é uma indignação. A partir da indignação, nós nos colocamos em digna ação para fazer frente ao mal, à injustiça, à arrogância e ao preconceito.
É ação digna a recusa em tirar uma fotografia ao lado de um político corrupto ou mesmo com aquele cidadão de notória “malandragem”. É dizer “não” ao pedido de voto do candidato que não se porta de forma honesta.
É ação digna cobrar de seu prefeito ou seu vereador uma postura condizente com as promessas feitas em campanha. Também é repreender o funcionário que fala mal da empresa em que trabalha e o servidor municipal que denigre sua cidade. É buscar coerência ética.
É ação digna reconhecer-se imperfeito sempre. E lutar pela evolução, pela reforma íntima. Servir sempre, ao próximo como a ti mesmo, dignamente.
Para se indignar de verdade não basta fazer beicinho, bater o pé... Para se indignar de verdade é preciso combater, reagir, colocar-se em alerta. Não aceitar o bullying, nem o preconceito, tanto quanto não aceitar-se a ingratidão... Ações dignas nascem de dentro para fora, de cada pessoa. E ganham a sociedade.
Sair por aí, protestando por protestar, não tem nada de indignação. Só é legítima a ação que propõe resultados. Quando aponta o problema, acena com a solução. Há reciprocidade no ato; todos os lados crescem.
Indignar-se não é julgar, mas analisar sem pressão de pesos, sem estar medindo nada.
Para quem diz que indignar-se não é um ato caridoso, lembro que, afinal, caridade é coragem. É caridoso deixar que o outro “se dê bem” e não aprenda nada? Onde os acomodados vêm caridade, vejo omissão.
Ações dignas são necessárias. Digo mais: são urgentes!



Izaida Stela do Carmo Ornelas



sexta-feira, 24 de abril de 2015

ENVELHECER





Coisa estranha é essa de se ficar velha...
Algumas cicatrizes somem, como se a gente voltasse à infância, ensinando a esquecer, a apagar. Outras cicatrizes mudam de lugar, como se nos convidassem a pensá-las de forma diferente, sob outro ponto de vista. Novas cicatrizes vem conviver conosco...
As pontas dos dedos ficam enrijecidas como se nos dissessem: “Agarre tudo depressa! Não tenha medo. Deixe de lado a etiqueta e use mais sua ética!”
Os olhos tão velhos de esfinge sabem que os óculos de grau já se tornaram descartáveis... Descontáveis... Porque as lembranças por detrás deles entram em ebulição: quanto mais profundas, mais pululam...
É justamente quando os retratos na parede começam a doer mais forte... Os heróis nos aparecem desmascarados: bandidos, falsários, pedófilos... Quando vemos tudo, entendemos tudo, mas tudo nos é pretenso, dissimulado, escondido pelos outros...
O gosto passado, que não se repetirá, ecoa na língua, feito um agouro. O cheiro de tempo chega a alucinar, querendo que seja novamente sentido. Assim como o tato, estão presos no passado... Torturados por não se fazerem sentidos presentes.
E a vida exterior ainda prossegue, nos ameaçando: Alzheimer, Parkinson e solidão.  
De resto, só a bondade de Deus aliviando o pesadelo. Porque a Verdade não falha, mas tarda...
De resto, a eternidade.

Izaída Stela do Carmo Ornelas





domingo, 22 de março de 2015

APRENDENDO SEMPRE




            



Nos últimos meses, estive presente em velórios de amigos e parentes. No meio da comoção geral, comecei a observar o sentimento, a dor, a morte. Perguntei o que é que poderia aprender disso tudo...
Quando percebi a sinceridade em cada olhar triste, em cada abraço, entendi: é preciso fazer diferença na vida das pessoas. Presenciei a despedida – temporária – entre pessoas que tinham entre si amizade, carinho, afeto, solidariedade. Consolador. Gostaria que meu velório fosse assim: com meus irmãos verdadeiros, de vida, mesmo que poucos.
Por intuição providencial, lembrei-me das pessoas que não terão este capítulo bonito em suas histórias. Sim. Quem nunca ouviu um “já vai tarde!” ou mesmo um “vou soltar foguete!” quando o falecimento de alguém é anunciado. Credo! Será que me enquadro nesse conjunto? Melhor colecionar amigos do que criar inimigos.
Aprendi num livro de Chico Xavier, emprestado pelo Gésus, meu companheiro de trabalho, a seguinte estória: “Um rei mandou que seu filho reunisse soldados e deu a ele mantimentos e riqueza, para que ele destruísse todos os inimigos do trono. Ao retornar ao palácio, o filho do rei tinha feito Justiça em todas as províncias do reino, distribuído os mantimentos, beneficiado as comunidades com o trabalho dos soldados. Havia selado a paz em todos os lugares. Não havia destruído os inimigos, transformou-os em amigos.” Guardei com carinho o ensinamento.
Este conhecimento foi repartido com uma amiga, que estava incomodada pelo som alto de seu vizinho. Contei a estória. Aconselhei-a a torná-lo amigo, a conversar e esclarecer, pois o conheço bem e sei tratar-se de boa pessoa. O problema foi resolvido. Aposto que até os outros vizinhos, beneficiados pelo som mais baixo, ficaram mais felizes!
Assim, decidi escrever esta crônica para pedir aos leitores destas linhas que tirem um pouquinho do seu tempo para fazer uma prece em favor destas pessoas que semeiam a maldade, a maledicência. Quando aparece aquele irmãozinho do mal na TV, quando cruzamos pelo notório antipático na rua, vamos fazer uma prece para que os corações destas pessoas se abram para o bem. Quem sabe nossas preces serão atendidas?

Izaida Stela do Carmo Ornelas





segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O MENININHO




Numa das reuniões da Casa Espírita, alguém me contou esta história (acho que foi o Jhony Bernardo) e sempre me lembro dela quando ouço pessoas discutirem a profissão docente.

Uma rodinha de crianças conversava na hora do recreio, fazendo planos:
Marquinho - Eu vou ser advogado, depois um promotor ou juiz de direito, ganhar muito dinheiro.
Juquinha – Eu vou ser policial, delegado de polícia, prender bandidos, defender a cidade. Serei um herói.
Malu – Prefiro ser médica, salvar pessoas e ainda ganhar uma boa grana...
Assim foram falando, cada um, seus objetivos para o futuro: jogador de futebol, psicólogo, etc.
Só Joãozinho não falou... Até que foi perguntado.
- Eu vou ser professor, disse ele.
A risada foi geral.
- Você vai é morrer de fome, que ninguém dá valor a professor não, debochou o grupo.
E Joãozinho esboçou um sorriso de confiança e desafio, quando explicou:
- Eu vou ser um professor muito bom. Vou ensinar as crianças a serem boas, a agir e raciocinar com justiça. Com isso, não vai ter muito trabalho para advogados, policiais, juízes, promotores e delegados! Vou ensinar as pessoas a cuidarem melhor de sua saúde, diminuindo o número de doentes e de clientes para a medicina.  Vou encorajar as crianças a buscarem o esporte mais pela saúde do que pela competição, colocando o valor do futebol longe da especulação dos cartolas. Meus alunos serão confiantes, corretos, solidários; quase não vão precisar de psicólogos. Vou cumprir minha missão.
E todos saíram dali com outras idéias...

Sou professora. Concluí o curso de Magistério em 1984, na Escola da Comunidade Divinense. Trabalhei na área até assumir concurso público no Banco do Estado de Minas Gerais – BEMGE. Sou fã da profissão e amo ver a vocação nos ideais de jovens, como a Laurinha Breder. Ela escreveu: 

Para aqueles que nos criticam por ser professor ou por estar estudando para ser um professor, pense bem, a nossa profissão é que gera todas as outras. Acha que ser médico é um ótimo emprego? E se não fosse o professor, existiria o médico ? Claro que não, então em vez de criticar, parabenize uma pessoa que em meio a tantas profissões a escolher ele preferiu ensinar, educar, alfabetizar e principalmente letrar as pessoas !

Seu post no facebook me emocionou muito, porque um dia eu tive que abandonar minha vocação – e ainda construir outra vocação, novinha em folha, para trabalhar como bancária. Sucesso!


Izaída Stela do Carmo Ornelas


sábado, 17 de janeiro de 2015

PARECÊNCIAS







Na sociedade romana antiga havia um ditado: “não basta que a esposa de César seja honesta; ela tem que parecer honesta.”
Dois séculos não foram suficientes para alterar esse comportamento.
A maioria das pessoas ainda tem uma fixação excessiva em parecer, deixando de lado o ser.
Não basta que o sujeito seja apaixonado; tem que tatuar o nome da amada... Não é suficiente ser um bom cidadão; tem que protestar... Não basta que homem e mulher sejam felizes juntos; tem que estar casados, ostentar uma aliança enorme, festejada em ocasião suntuosa. Não basta que a pessoa seja caridosa; é preciso divulgar na mídia suas ações... Não basta que você seja feliz; se não aparentar felicidade...
Não basta a virtude; é preciso o glamour da aparência.
E o empenho em ser fica sempre em segundo lugar.
O caminho inverso está, assim, delineado. O quanto de felicidade aparente nos posts do facebook é felicidade real? O quanto de decência, de honestidade, de virtude, são qualidades reais?
Escondidos, atrás da aparência, da mídia, da propaganda, estão os corruptos, os criminosos, os maus profissionais... Muitas vezes rindo de nossa credulidade; sempre posando de “coitadinhos”, quando são questionados a fundo. Graças a nossa ingenuidade, eles conseguem inverter os papéis e se convertem em “tadinhos”, mesmo tendo roubado, aleijado, lesado... Afinal, eles têm a simpatia material, enquanto a razão, que é espiritual, não tem esse apelo tão forte...
Com estas atitudes reafirmamos, subliminarmente, que acreditamos mais no material do que no espiritual. Enquanto não encontramos materialidade nas virtudes, geralmente, nós as negamos. Mas quando encontramos materializado um simulacro, um arremedo de virtude, nós tendemos a aceitar de pronto.
Assim, a mentira material recebe maior valor – e maior credibilidade - do que a verdade espiritual.
Vamos pensar mais, pensar melhor. A vida acontece além das aparências.



Izaída Stela do Carmo Ornelas


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