I
Juro que,
Um dia,
Se fizer sol,
Tirarei a toga
Indefinidamente.
Carnaval, talvez.
À chuva lá fora eu jurei.
II
Já que a chuva não parou,
Uso o tempo com sofreguidão:
Separando meus anseios,
Tropeçando em minhas dores,
Ignorando o cansaço.
Conhecendo-me em pormenores
A se recortarem nos processos...
III
Junto ao cadáver encontraram a ré,
Uma criança de dez anos exercitando
Sua legítima defesa da honra.
Tomada, roubada, ensangüentada.
Inocência encerrada num crime
Cruel por não ser único ou último.
A sentença ali eu teci.
IV
Janelas respingadas,
Uma toga cheirando a mofo e
Simulacros de
Toda uma existência...
Inclino-me na sacada
Crianças brincam em poças na rua
Aquela sem inocência também...
V
Jogos de amarelinha e
Utopias que cultivo.
Separando bem e mal
Tomo para mim a culpa, embora
Ínfima parte:
Cuidarei e amarei aquela criança
A sentença é o princípio.