Acredito que a gratidão é condição fundamental para a evolução de pessoas e comunidades.
Divino deve muito a este homem. Pra quem não conheceu, este foi o Juiz Diógenes de Araújo Netto, idealizador da Escola da Comunidade Divinense, que lançou Divino ao status de pólo regional em educação. Mineiro de Abre Campo, ele receberia a Medalha da Inconfidência no dia 21 de abril de 2011. Infelizmente, faleceu em Belo Horizonte uma semana antes do evento, no dia 15. A ele, o reconhecimento por tudo o que representou na busca por melhorias sociais, por dignidade e por nobreza de ideais. Sobre ele, no site da Amagis, tem-se: Quando menino, sempre ouvia de seu pai: “Você pode ser o que quiser, menos advogado”, relembra o magistrado, frisando que seu pai tinha certa “ojeriza” desse profissional. Prestou vestibular para engenharia, mas apesar de ser muito estudioso, não passou nas provas. O destino já o levava em direção ao direito. E foi pra ele, de fato, que Diógenes se dirigiu. Passou em um dos primeiros lugares no vestibular na Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro. Contra o gosto de seu pai, deu início ao curso, o qual concluiu em 1952. Anos depois, prestou concurso para a magistratura mineira e, em 1958, entrava para a carreira que ainda lhe renderia uma série de surpresas. Quando o senhor iniciou a carreira foi obrigado a ficar afastado e parar de atuar na magistratura. Como isso aconteceu? Eu estava em minha primeira comarca, na cidade de Divino, onde também fui o primeiro juiz. Em 1964, em plena revolução, recebi a notícia de que acabara de ser colocado em disponibilidade. Naquele ano, fui condecorado pelo Ato Institucional nº 1. O motivo? Até hoje, eu não sei. Saiu uma publicação no Diário Oficial dizendo: o governador, com base no AI nº1 resolve colocar em disponibilidade o bacharel Diógenes de Araújo Netto. Só isso, sem qualquer motivação. Eu continuava a ser juiz, mas não podia exercer a atividade. Quais os efeitos que o fato trouxe para o senhor, tanto na vida pessoal quanto na profissional? Na vida profissional, eu acredito que tenha prejudicado na minha promoção. Hoje, eu poderia ser um desembargador aposentado. Mas, o maior efeito, acredito, que tenha ficado com minha família, que ficou triste com o que estava acontecendo, e com meus amigos. Alguns deles ficaram até em dúvida, imaginando que eu pudesse ter feito alguma coisa para ser colocado em disponibilidade. Eu não sabia explicar por que não sabia o motivo. Se havia algum, até hoje, eu desconheço. Nesse período, em que o senhor não podia exercer a magistratura desenvolveu alguma atividade? Fiquei 16 anos sem poder atuar na magistratura. Eu era professor, na época, com título do Ministério da Educação. Comecei então a lecionar e fiz o curso de Letras na Faculdade de Filosofia de Caratinga. Fiz pós-graduação e me tornei mestre em lingüística e filologia. Lecionei latim na mesma faculdade onde estudei. Quando e como se deu o retorno do senhor para a carreira? O meu retorno se deu em 1980, possibilitado pela anistia. Eu parei de lecionar e voltei a atuar como juiz na comarca de Teixeiras, onde fiquei apenas três meses. Abriu uma vaga por antiguidade, e eu era o juiz mais antigo, já que foi contado meu tempo de disponibilidade. Fui para Campanha, onde fiquei seis meses, sendo promovido por merecimento para Caratinga. Lá, fiquei seis anos e fui promovido, também por merecimento, para Belo Horizonte. Depois da aposentadoria, em 1995, pela compulsória, voltou a lecionar? Iniciei um trabalho de escrever um dicionário de grego moderno. Hoje, ele está pronto, em fase de revisão. Além disso, coordeno trabalhos na minha fazenda de produção de café. Para o senhor, qual a importância de uma associação de classe? A associação de classe representa a força para defender os direitos de cada associado e estudar o campo de ação da classe, para que haja melhor produção, e para que o produto seja mais qualificado. A Amagis representa, a meu ver, exatamente o desejo da magistratura de estar sempre se atualizando e melhorando. O objetivo, alcançado pela Associação dos Magistrados Mineiros, é trazer mais força e prestígio para os juízes e desembargadores, para que eles possam desenvolver cada vez mais e melhor seu trabalho. A Amagis lançou a MagisCultura, revista de cultura e arte dos magistrados mineiros. Qual a opinião do senhor sobre a revista? Acho que é um trabalho muito importante. A arte e a literatura amaciam o sentimento da gente, e todos nós nos resumimos em sentir, pensar e agir. Principalmente, o homem magistrado, o juiz. Ele tem que ter uma sensibilidade delicada, um pensamento sólido e uma ação decidida e segura. |
Como ex-aluna da Escola da Comunidade, senti-me obrigada.
Obrigada.