Quando nos deparamos com as mazelas que compõem nossa cruel realidade, muitas vezes sonhamos com uma chave mágica, capaz de resolver tudo, de desligar o mal e acender o bem. Esta chave existe. Bem, o projeto desta chave está em execução: por diversos momentos, por variadas pessoas espalhadas mundo afora. E seu nome é respeito.
Sua carência faz mal de modo generalizado: em nossas casas, em Divino, no Brasil, no mundo. Vemos todos os dias a falta de respeito ao esforço do cidadão que lutou, trabalhou duro e honrou o compromisso de seus impostos: dinheiro em roupa íntima, obras começadas e abandonadas, descaso com as instituições públicas, corrupção, omissão.
Pior que isso, por ser mais profunda, é a falta de respeito à alma do indivíduo que nasceu negro, pobre, deficiente, gay; ou contra aquele que escolheu ser católico, evangélico, espírita, muçulmano... A humanidade e a religiosidade, que deveriam nos manter unidos, são as primeiras razões utilizadas para nos dividir!
Verdade seja dita: não respeitamos, em parte porque não temos respeito nem o suficiente para nós mesmos! Isso mesmo! Também nós não nos respeitamos: glorificamos marcas, grifes e status de frivolidades, ao invés de privilegiar valores que não se deterioram. São valores colocados como “fora de moda”, porque vemos que a moda não comporta mais o amor, a amizade e a moral.
Estamos sendo aos poucos escravizados pela cobiça, pela inveja, pela competição selvagem. E muitas vezes somos levados pela mídia a acreditar que tudo isso “é para o nosso bem”, estabelecendo uma ridícula inversão de valores. Por essa ótica, ladrão que tem dinheiro é “menos ladrão”, aceito e festejado nas rodas sociais; mulheres de conduta deplorável são convidada de honra em eventos do high. Nossos modelos são moldes deteriorados que oferecemos à posteridade.
Assim, falta de respeito é a arma mais letal que já foi concebida na face da terra. Mata em guerras, mata em preconceitos, em depressões, em suicídios. E tornamo-nos assassinos. Mesmo inconscientes, não somos inocentes. Quando negamos uma palavra de conforto a alguém que nos procura, se essa pessoa cai em depressão, somos também responsáveis pela instalação da doença. Quando jogamos nosso lixo na rua e o entupimento de um bueiro lá adiante afoga uma criança, a culpa não é só do governo... Aprendemos e praticamos a irresponsabilidade. Ninguém mais é responsável por nada: a família não é mais responsável por amparar, nem o professor por ensinar, nem o aluno por aprender. Responsabilidade, que deveria ser orgulho, respeito a si e ao próximo, tornou-se uma “batata quente” que ninguém quer segurar.
E ensinamos essa falta de respeito às novas gerações. Quando dizemos a nossos filhos que “comam tudo para ganhar a sobremesa”, somos duplamente eficientes: em estimular a gula, ao mesmo tempo em que ensinamos a chantagem. As mães orientais, nesse momento, falam a seus filhos do respeito que se deve às pessoas que plantaram, colheram, fabricaram o alimento... E nós sequer percebemos a bela lição!
Felizmente, há pessoas que, feito formiguinhas, estão por aí praticando gentilezas, sorrindo, preocupando-se com o outro, levando luz e paz a contagotas. Mas, se pensarmos bem, a noite é mais bonita porque as estrelas se esforçam em conjunto para construir sua beleza.
A chave é construída com atenção aos detalhes, aos pequenos gestos. O respeito, para funcionar, deve entrar sorrateiramente em nossas vidas, para que ali se estabeleça de modo pleno.