sábado, 26 de junho de 2010

Bullying na escola: errando onde é preciso acertar


Muito antes do termo bullying ser utilizado, o preconceito nas escolas já se encontrava em estado de ebulição.
Por ter cabelo afro, sofri bastante esse preconceito. Na escola tinha os mais variados apelidos: desde o tradicional “bombril” até o original “pichuim doidado”, passando por “nega do cabelo duro”, conforme o comercial ou a música que estivesse fazendo sucesso na época.
Lembro de uma ocasião em que as professoras estavam inspecionando o cabelo dos alunos para identificar os que tinham piolho. Eram atendidas duas crianças por vez, numa salinha a portas fechadas. Em fila, esperávamos nossa vez. Saía um para a sala da direita: estava com piolho, recebia um pacotinho com inseticida e era mandado para casa, onde a mãe deveria aplicar o produto. Saía um para a esquerda: estava “limpo” e podia ir brincar no pátio.
Quando me chamaram, antes de que a professora olhasse meu cabelo, ouvi uma outra dizer:
- Hiiiii... Pode mandar direto para pegar o remédio!
Fui “examinada” e nada foi encontrado, porque minha mãe sempre teve muito capricho com essas coisas. Se olhassem meus olhos... Se olhassem meu coração naquele momento... Não contei nada a minha mãe, porque achei que ela não merecia sofrer a mesma tristeza pela qual passei. Aprendi a gostar de meus cabelos, de mim. Assumi com orgulho minha porção afro.
Quando me formei professora, o primeiro exemplo que eu jurei para mim mesma repugnar foi esse: o preconceito. E não guardei mágoa, nem fiz escova progressiva por muito tempo! Recentemente, exorcizando o preconceito reverso, estiquei as madeixas. Afinal, diferenças são apenas diferenças. Nada mais.
Nietzsche estava certo quando disse que o que não nos mata, nos fortalece. No meu caso, sai fortalecida: compreendi o quanto as pessoas que praticam o preconceito são atrasadas e precisam de ajuda! Infelizmente, muitas vítimas se recolhem, deixam-se abater, perdem sua autoestima e terminam emocionalmente “mortas”, por “fazer o jogo” do agressor.
Precisamos exorcizar o preconceito, que é o pai do bullying. A sociedade do estigma é a mãe...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

MEDO MAIOR

Devido à repercussão da matéria Direitos, Deveres e Dignidade, publicada no site do jornal O Impacto, venho a público confessar meu medo maior: o de que a classe docente, na qual me incluo sob o MASP. 533158-2, entre num estágio degenerativo sem precedentes.

Uma série de outros exemplos – tristemente verdadeiros - de atos incompatíveis à importância do magistério me chegou ao conhecimento, no decorrer do diálogo com os leitores acerca da matéria. Tais maus exemplos estão na boca de todos, mas não podem estar no papel. Por quê? Não deveriam estar é no cotidiano das escolas, nas vidas de tantas crianças que têm seu futuro mutilado! “Ao vivo”, escandalizam muito mais!

Práticas incorretas precisam ser – de forma imparcial - identificadas, revistas e banidas!

Nesse sentido, conclamo a comunidade a promover uma urgente revitalização ética e moral, que exclua qualquer possibilidade de comparação pejorativa – presente ou futura – entre o professorado e os políticos. Já imaginaram que, daqui a algum tempo, pode ser necessário que a sociedade promova um “Ficha Limpa” dentro da educação? Então vamos impedir que isso aconteça. E para isso, não podemos “varrer a sujeira para debaixo do tapete”!

O enfoque principal está no combate ao “mau jeitinho brasileiro”, pelo qual se tem que “levar vantagem em tudo”, burlar a lei e prejudicar o próximo. Pessoalmente, me sinto humilhada por tais ações; tanto como mãe, quanto como professora. Para o enfrentamento da questão, não se pode assumir a postura do macaquinho que não vê, não escuta e não fala: porque o macaquinho pensa!

Tenho medo da omissão, que encobre os maus profissionais. Tenho medo da falta de diálogo, que é improdutiva. Tenho medo de quem não tem coragem de admitir e tratar erros, sejam éticos, sejam pedagógicos, quaisquer que sejam. Porque em todas estas (in)ações está a falta de amor...

Se dou importância à educação, é porque acredito estar na escola a panacéia para nossos males sociais. E continuo afirmando que o descaso da mídia é patente. Um exemplo basta: quando o Jornal Nacional escolheu veicular uma matéria sobre quem é o cabeleireiro do Robinho (24/05), ao invés de noticiar a greve. Neste episódio, percebemos claramente o que é colocado como importante...

Triste constatar que a sociedade dá mais importância ao dinheiro do que a seus filhos. Tanto que os cuidadores de papel, chamado dinheiro, são melhor remunerados que os formadores das novas gerações, que tomam conta do futuro da humanidade. Um sujeito de outro planeta se espantaria com o fato! Disso é feito o surrealismo. De espanto e de hipocrisia.

Ressalto o juramento de formatura das antigas Escolas Normais:



Prometo, no exercício do Magistério, cumprir os deveres a ele inerentes, conduzindo-me dentro dos princípios da sabedoria e do respeito à pessoa humana, na formação do educando, despertando nele a consciência dos valores que conduzem à grandeza do Brasil e à elevação moral e social da humanidade.”



Muitos cumprem; alguns sem ter sequer prometido. Vamos resgatar os outros?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A POLÊMICA DA (DES)EDUCAÇÃO

Postei em minha coluna do jornal O Impacto um comentário-desabafo-pedido-de-socorro intitulado Direitos, deveres e dignidade. A polêmica em torno do assunto criou um diálogo muito promissor. A greve já acabou, mas o alerta tem que persistir.
O texto diz o seguinte:

A greve dos professores da rede pública estadual revela um aspecto quase surreal da categoria.
Quase não há notas na mídia, não há repercussão do assunto; não há apoio da sociedade quanto à reivindicação. Um erro grave: calar a verdade é omissão.
O salário, realmente, é uma vergonha! Mas s sensação que, muitas vezes, tenho é a de que "pro que é, basta". Parece a paga justa - às vezes até demais - para uma parcela de professores. São poucos, mas incomodam, porque deveriam ser exemplo. E, infelizmente, não se mudam. Não evoluem e não são incentivados a mudar. Abrem precedentes para que outros façam o mesmo...
A valorização - urgente - da classe tem que acontecer como a educação: de dentro para fora. De dentro da comunidade docente, aflorando honestamente para a sociedade. só aí é que o professorado terá autoridade moral (termo cunhado pelo Professor Dr. Ziba) para justificar sua ação. Conquistar essa autoridade é condição prioritária. Afinal, a contrapartida à reivindicação de salário como direito legítimo é a dignidade do dever cumprido. Simples.
Não se podem admitir condutas indevidas, que só servem para denegrir o grupo. Cada um que tenha seu arbítrio livre, mas que respeite o outro, como a si mesmo. As boas e más atuações são reações em cadeia, que formam um quadro onde a sociedade vê o grupo: um retrato. Como é este retrato?
Vamos analisar imparcialmente. Comparada a outras classes de trabalhadores, a classe docente se comporta de maneira estranha, por vezes indigna, da função que exerce.
Quando o filho de um médico adoece, o pai o trata; quando o filho de um professor de escola pública vai à escola, geralmente o faz longe da escola em que o pai - ou a mãe - trabalha. O filho do cozinheiro come, preferencialmente, no restaurante em que seu pai cozinha, mas o filho do professor, em geral, frequenta uma escola diferente - e particular...
Quando um trabalhador falta ao trabalho, o empregador lhe desconta o dia não trabalhado; quando o professor falta, muitas vezes "assina o ponto", sorrateiramente...
Quando um empregado xinga ou humilha um cliente, é repreendido ou dispensado; quando um professor chama seu aluno de burro ou vagabundo, o assunto é tratado como fato corriqueiro...
Quando um médico erra, a comunidade médica o julga e pune; quando o professor erra, nada acontece... E os erros que ferem a alma são tão graves quanto os que lesam o corpo!
Assim, na escola, nossos filhos aprendem lições indesejadas: impunidade, fraude, corrupção!
Um exame de consciência de classe se impõe, em busca da dignidade perdida. Cada um é responsável pela sua parcela de imagem que compõe o conjunto.
Conto com os bons profissionais para que promovam essa revolução, tão necessária, rumo à valorização. Contem comigo sempre.
Confio na vitória desse bom combatte.
Espero que essa greve seja usada como um tempo de autoanálise e de crescimento para todos.
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