Odeio
meus cabelos de Bombril,
Meus
falsos anseios
Que
são apenas meios idiotas
De
crescer mascarada e alheia.
Odeio
ver alguém que se pareça
Com
alguém que amei
Pois
começo a ver um motivo
Que
não é senão eu mesma.
Odeio
minhas roupas de caipira
Bem
como meu sotaque mineiro.
-
Uai? Não é justo co’ nóis!
Mas
também não é comigo.
Odeio
minha acomodação
Em
relação à vida que levo:
Viver
lembrando do que deixei em MG
Em
contraste ao que vivo aqui.
Odeio
essas quatro paredes cariocas
Porque
não são minhas
Me
odeio profundamente
Porque
não me pareço comigo.
Vejo
ódio em linhas lindas
Pingado
de meus maus olhos
Que
não puderam ainda
Mostrar
que amaram – e amam!
Detesto
minhas limitações físicas
E
mais ainda estar botando isso pra fora.
Imagina
o que vão dizer as pessoas!
...
Odeio
essa minha solidão.
Será
que ela ainda vai durar?
Não
sei.
Tento
saber! Tento?
Só
sei que odeio os homens
Pois
me materializam, me fetichizam.
Odeio
as mulheres
Pois
me imprimem mais complexos
Mais
e grandes!
Ódio
às crianças
-
purinhas –
Rindo
de meus cabelos de Bombril,
De
eu não ter pai, nem amigos,
Nem
coração mais e nunca: nunca mais.
Odeio
esse calor lá fora
E a
televisão faladeira.
Odeio
minha cintura, meus pés,
As
pernas tortas e essa vontade nojenta
De
chorar e gritar.
Agora
tenho um sono odioso
Sem
poder adiá-lo
Por
amor ao dia que vem;
Vem ver de perto meu rosto feio
Porque
irá beijá-lo.
Vou
dormir um sonho
Onde
você me verá sem ódio
Porque
você não é ainda capaz
De,
como eu, inventá-lo...
Por
ter apenas o que amar.
Rio de Janeiro, 1985...