segunda-feira, 18 de outubro de 2010

UM DIA NA CASA ESPÍRITA


“Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, eu com elas estarei.” (S. MATEUS, cap. XVIII, v. 20.)



Muitas pessoas têm vontade de saber o que se passa em uma reunião espírita. Em atenção a elas, nos propusemos a relatar aqui a rotina de uma de nossas reuniões, com honestidade e clareza – características de um texto jornalístico. Para que o leitor possa melhor compreender, faremos isso sob dois pontos de vista - o materialista e o espiritualista – que permitirão o didático recurso da comparação.



NARRATIVA MATERIALISTA

É segunda-feira. Um componente do grupo espírita se ocupa em limpar o salão, organizar os livros, filtrar a água e deixar pronto o ambiente físico para os estudos da noite.

Mais tarde, na mesma sala simples, às sete e quinze da noite, vemos uma mesa preparada para estudos do Evangelho. No cômodo ao lado, uma biblioteca oferece centenas de títulos de livros para venda, empréstimo e consultas. As pessoas vão chegando: algumas são freqüentadoras assíduas e adeptas do espiritismo; outras são visitantes e convidados, que se interessaram em conhecer a doutrina kardecista; outras ainda vêm por pura curiosidade acerca do desconhecido. São todos bem-vindos.

Música suave convida à meditação. Sobre a mesa, uma jarra com água, exemplares do Evangelho Segundo o Espiritismo e um livro de preces, onde são escritos os nomes das pessoas para as quais solicitamos uma atenção especial da espiritualidade. Como numa grande equipe com o objetivo de executar trabalhos escolares, todos se sentam à mesa e recebem um Evangelho.

Às sete e meia, uma prece inicial é feita pelo dirigente da reunião. Nessa prece pede-se licença a Deus para o começo dos trabalhos de estudo, em nome de Jesus. Alguém abre o Evangelho ‘ao acaso’ e lê o trecho que foi selecionado pela espiritualidade. O motivo da reunião é Jesus. Ali o diálogo respeita sempre a ética do Cristo, levando-se em consideração o que Ele faria em determinada circunstância. Todos participam com idéias, perguntas e experiências partilhadas. Os temas são variados: amar os inimigos, a necessidade da caridade, o emprego do dinheiro, a conduta, a fé religiosa, por exemplo.

Entretanto, o maior tema proposto por Ele é a nossa Reforma Íntima. É a partir da modificação de nós mesmos, tendo como modelo a vida d’Ele, que conseguiremos a melhoria do mundo. Começando com o que temos à mão, ou seja, nós mesmos, podemos desenvolver nossas qualidades e procurar um jeito melhor – e mais honesto - de lidar com nossos defeitos. É a verdadeira construção de nossa dignidade, a partir da desconstrução de nossos preconceitos e de nossa ignorância acerca de nós mesmos e, conseqüentemente, do mundo. Como o velho filósofo ensinava: uma educação de dentro para fora.

Oito e quinze. Intuitivamente, o dirigente solicita a um dos presentes que abra, ‘ao acaso’, e leia um capítulo de um livro de mensagens. O comentário final da espiritualidade sempre “fecha com chave de ouro” (licença para uso do chavão) o assunto em pauta, concluindo e convidando a novas considerações.

Uma prece encerra o estudo, pedindo a fluidificação da água que será distribuída aos presentes, agradecendo a oportunidade de conhecimento e o auxílio precioso dos benfeitores espirituais presentes. A água magnetizada pelas energias do estudo é distribuída a todos. Está finalizada a reunião, que costumamos chamar de ‘bate-papo com Jesus’.

A Casa Espírita estará aberta novamente para a próxima reunião.



NARRATIVA ESPIRITUALISTA

É segunda-feira. Durante todo o dia os mentores da Casa Espírita estão envolvidos com muito trabalho. Como anjos da guarda, eles cuidam do ambiente espiritual correspondente ao ambiente material e também de cada uma das pessoas que pretendem comparecer à reunião da noite. Problemas e cuidados ocupam o tempo, que passa depressa.

São sete e quinze da noite. Numa dimensão paralela à sala simples, vemos uma mesa preparada para estudos do Evangelho. A construção espiritual não é muito diferente da casa material que vemos. As pessoas também vão chegando: são desencarnados com toda a sorte de problemas, alguns acreditando-se ainda vivos, outros precisando de ajuda, de conselho, de energia, enfim, todos em busca de Amor. São todos bem-vindos.

Música suave convida à meditação. Às sete e meia, uma prece inicial é feita pelo dirigente da reunião, sob as bênçãos do Cristo. Alguém abre o Evangelho, conforme determinação dos mentores da Casa - ditada por intuição - e lê o trecho selecionado. O motivo da reunião é Jesus. Ele quer que todos recebam Sua Justiça, Seus ensinamentos, Sua mensagem.

Os ouvintes são variados: suicidas, assassinos, senhores de escravos, ladrões, hipócritas, enganadores, todos nossos irmãos. Todos feitos à imagem e semelhança de nosso Pai, como nós. Eles se sentem reconfortados na atmosfera de amor, de solidariedade e de busca de conhecimento que encontram. É mais uma lição de doação que aprendemos: nossas energias auxiliam no tratamento desses irmãos em dificuldades, como se a Casa fosse um pronto-socorro que os prepara para o atendimento num hospital especial.

Oito e quinze. O comentário final da espiritualidade é escolhido de modo a concluir o assunto e solucionar dúvidas que não tenham sido expressas verbalmente. Ao desencarnados são atendidos. Enquanto isso, uma equipe de benfeitores trata de avaliar o estado físico-espiritual de cada componente encarnado da mesa, a fim de colocar na água os elementos específicos necessários à saúde e ao equilíbrio do corpo e da mente.

Uma prece encerra o estudo, agradecendo ao Pai a oportunidade de aprender e servir. Bênçãos se expandem em busca das pessoas do livro de preces; dos presentes, de seus familiares, amigos e inimigos; dos necessitados encarnados e desencarnados que a espiritualidade houver - por necessidade ou merecimento - atender.

A Casa Espírita acolherá nova reunião.
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