Minha geração forneceu os protagonistas de todas estas palhaçadas que vemos nos jornais: lava-jato, mensalão, propinoduto, entre outras menores, corriqueiras, mas não menos criminosas.
É que minha geração teve uma criação muito estranha. A maioria de nós foi criada “pra levar vantagem de tudo”, achando bonito “dar manta” nos outros, aceitando como verdades absolutas tudo o que nos era dito pelos “mais velhos”. Respeito irrestrito, irresponsável e irracional a pais, avós e “similares”.
Aquele parente caloteiro tinha que ser recebido em nossas casas com toda cerimônia, servido com o melhor jantar, etc. Ao mesmo tempo, éramos alimentados com o pior exemplo possível. A autoridade corrupta recebia louros, afilhados, nome de rua e se sentava à cabeceira das mesas das melhores famílias. Sem que houvesse protestos em nenhum jornal. Muitos pedófilos tinham lugares garantidos nas festas de família, enquanto o núcleo abusado não comparecia ao evento, simples e silenciosamente. Dolorosamente. Não nos faltam exemplos. Acho que cada um pode acrescentar um “causo” dessa prática.
Alguns de nós conseguimos quebrar - em parte - esse círculo vicioso, criando nossos filhos à luz da razão, com noções melhoradas de dignidade e ética. Talvez porque sofremos demasiado a dor da vergonha alheia. Também porque fomos criando uma revolta produtiva contra esses disparates que se desenvolviam à nossa volta.
Marcelo Odebrecht, ao discorrer sobre a delação premiada, exemplifica a continuidade dessa criação: “Quando lá em casa minhas meninas brigavam eu perguntava ‘quem fez isso?’ Eu talvez brigasse mais com quem dedurasse”. Ele incorre num juízo esvaziado de valor: não importa o que foi feito, não importa a causa; só as consequências merecem destaque.
Na mesma linha de raciocínio, temos o velho ditado: “Quem fala a verdade não merece castigo.” Tratando a causa: quem fala a verdade, “desde sempre”, não fará nada que possa merecer castigo algum. O problema é saber o que é verdade, no meio de tanta falácia. Tenho dito.
E as perguntas continuam em aberto:
Que valores são mesmo de valor?
A que valores você dá valor?
Izaída Stela do Carmo Ornelas
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