Coisa
estranha é essa de se ficar velha...
Algumas
cicatrizes somem, como se a gente voltasse à infância, ensinando a esquecer, a apagar.
Outras cicatrizes mudam de lugar, como se nos convidassem a pensá-las de forma
diferente, sob outro ponto de vista. Novas cicatrizes vem conviver conosco...
As
pontas dos dedos ficam enrijecidas como se nos dissessem: “Agarre tudo
depressa! Não tenha medo. Deixe de lado a etiqueta e use mais sua ética!”
Os
olhos tão velhos de esfinge sabem que os óculos de grau já se tornaram descartáveis...
Descontáveis... Porque as lembranças por detrás deles entram em ebulição:
quanto mais profundas, mais pululam...
É
justamente quando os retratos na parede começam a doer mais forte... Os heróis nos
aparecem desmascarados: bandidos, falsários, pedófilos... Quando vemos tudo,
entendemos tudo, mas tudo nos é pretenso, dissimulado, escondido pelos
outros...
O
gosto passado, que não se repetirá, ecoa na língua, feito um agouro. O cheiro de
tempo chega a alucinar, querendo que seja novamente sentido. Assim como o tato,
estão presos no passado... Torturados por não se fazerem sentidos presentes.
E
a vida exterior ainda prossegue, nos ameaçando: Alzheimer, Parkinson e solidão.
De
resto, só a bondade de Deus aliviando o pesadelo. Porque a Verdade não falha,
mas tarda...
De
resto, a eternidade.
Izaída
Stela do Carmo Ornelas
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