segunda-feira, 10 de junho de 2013

A QUEM INTERESSAR POSSA





Quanto mais notícias eu leio, mais me confundo com as coisas...
Tenho lido nos jornais muita coisa a respeito de adoção de crianças por casais homoafetivos. Nos jornais a coisa ainda é respeitosa, na maioria. No facebook a coisa se desdobra em preconceitos dos mais variados. E eu fico, em meu coração de quase-jornalista, me perguntando:
- As pessoas que julgam e opinam ali já adotaram quantas crianças?
Vamos ouvir aquelas pessoas que se dedicam a acolher. Estas opiniões me interessam. Casais que adotam cinco, seis filhos... Pessoas que não tem tempo de ficar nos jornais, na internet, porque têm trabalho a fazer. Essas opiniões eu não li. Não interessaram a ninguém...
- O que as crianças abandonadas preferem? As maiorzinhas podem emitir sua opinião. O que elas desejam?
Não se pergunta nada aos maiores interessados. Aposto que os que atiram pedreiras não adotaram nenhuma criança. Como podem opinar sobre o que não viveram?
Posso imaginar a tristeza de uma criança que não tem pai, porque perdi o meu muito cedo. Assim como posso imaginar a alegria de uma criança abandonada que passa a ter dois pais ou duas mães, que passa a receber cuidados, atenção, amor. Conheço famílias em que irmãos assumem a criação de irmãos, famílias diferentes e que suas diferenças não fizeram seres menos humanos.
Aliás, é curioso que os valores sejam invertidos, convertidos, confundidos... A bicha má da novela é um sucesso, enquanto o casal gay que quer adotar é rotulado como mau. Nem o intervalo comercial me dá sossego: propaganda de cerveja se vale de atrizes que representam mulheres fúteis, tentando vender seu produto para homens (ou babacas?) e menosprezando a parcela feminina que poderia adquirir a marca. Mudei de marca! Mudei o canal!
Estou cada vez mais confusa, gente.
Também li no jornal de domingo (02/06) que o trabalho infantil não foi erradicado como os pseudo-benfeitores das crianças pretendiam. “Trabalho infantil expõe 1,9 milhões a riscos”.
- E a fome, o tráfico, o vazio mental?
Sempre fui encorajada a trabalhar, a conquistar minha dignidade através do meu esforço. O que há de errado nisso? Só estaria errado se eu deixasse de lado a escola ou deixasse de ser feliz em razão do trabalho. A criança que se orgulha de ter seu próprio dinheiro não é presa fácil para o traficante; quer crescer ainda mais, com o auxílio de boa escolaridade; geralmente não se torna vítima de depressão e outras doenças mentais. Sua autoestima é alta. O problema é que ela aprende a pensar suas relações de trabalho e seu sucesso termina por quebrar o círculo vicioso que produz votos no curral.
Ao longo da história tenho visto muitas incoerências, discursos hipócritas e torpes, disfarçando nossa preguiça em assumir nossos problemas. É muita lei sendo despejada em cima da gente, sem que nossa opinião seja levada em conta. Ou seja, não se pergunta nada a quem mais interessa... Eles decidem e baixam toda a sorte de maluquices “pro nosso bem” (sic.).
Vejo comentários, nos sites de relacionamento, sobre todo tipo de bolsa: família, crack, prostituta, detenção. Algumas nem sei se são verdades. Nem procuro saber. Não tenho mais uma pressão arterial que suporte essas coisas. Felizmente nunca precisei utilizar tais benefícios, mas se o fizesse, seria com a responsabilidade de realmente estar em condições de necessidade.
Pra cúpula, fica muito fácil:
- Dá uma esmolinha e deixa o mundo correr... Cuidar dá muito trabalho...

Quando nos deveria interessar apenas uma lei, mas essa ainda não cabe em nosso orgulho, nem em nossa vaidade. Trata-se de “amar ao próximo como a ti mesmo”.
Em suma, quando vemos ou vivemos alguma situação dúbia, devemos sempre nos perguntar: é interesse de quem? a quem interessa?


Izaída Stela do Carmo Ornelas

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