sábado, 17 de janeiro de 2015

PARECÊNCIAS







Na sociedade romana antiga havia um ditado: “não basta que a esposa de César seja honesta; ela tem que parecer honesta.”
Dois séculos não foram suficientes para alterar esse comportamento.
A maioria das pessoas ainda tem uma fixação excessiva em parecer, deixando de lado o ser.
Não basta que o sujeito seja apaixonado; tem que tatuar o nome da amada... Não é suficiente ser um bom cidadão; tem que protestar... Não basta que homem e mulher sejam felizes juntos; tem que estar casados, ostentar uma aliança enorme, festejada em ocasião suntuosa. Não basta que a pessoa seja caridosa; é preciso divulgar na mídia suas ações... Não basta que você seja feliz; se não aparentar felicidade...
Não basta a virtude; é preciso o glamour da aparência.
E o empenho em ser fica sempre em segundo lugar.
O caminho inverso está, assim, delineado. O quanto de felicidade aparente nos posts do facebook é felicidade real? O quanto de decência, de honestidade, de virtude, são qualidades reais?
Escondidos, atrás da aparência, da mídia, da propaganda, estão os corruptos, os criminosos, os maus profissionais... Muitas vezes rindo de nossa credulidade; sempre posando de “coitadinhos”, quando são questionados a fundo. Graças a nossa ingenuidade, eles conseguem inverter os papéis e se convertem em “tadinhos”, mesmo tendo roubado, aleijado, lesado... Afinal, eles têm a simpatia material, enquanto a razão, que é espiritual, não tem esse apelo tão forte...
Com estas atitudes reafirmamos, subliminarmente, que acreditamos mais no material do que no espiritual. Enquanto não encontramos materialidade nas virtudes, geralmente, nós as negamos. Mas quando encontramos materializado um simulacro, um arremedo de virtude, nós tendemos a aceitar de pronto.
Assim, a mentira material recebe maior valor – e maior credibilidade - do que a verdade espiritual.
Vamos pensar mais, pensar melhor. A vida acontece além das aparências.



Izaída Stela do Carmo Ornelas


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