Quanto
mais notícias eu leio, mais me confundo com as coisas...
Tenho
lido nos jornais muita coisa a respeito de adoção de crianças por casais
homoafetivos. Nos jornais a coisa ainda é respeitosa, na maioria. No facebook a
coisa se desdobra em preconceitos dos mais variados. E eu fico, em meu coração
de quase-jornalista, me perguntando:
-
As pessoas que julgam e opinam ali já adotaram quantas crianças?
Vamos
ouvir aquelas pessoas que se dedicam a acolher. Estas opiniões me interessam.
Casais que adotam cinco, seis filhos... Pessoas que não tem tempo de ficar nos
jornais, na internet, porque têm trabalho a fazer. Essas opiniões eu não li.
Não interessaram a ninguém...
-
O que as crianças abandonadas preferem? As maiorzinhas podem emitir sua
opinião. O que elas desejam?
Não
se pergunta nada aos maiores interessados. Aposto que os que atiram pedreiras
não adotaram nenhuma criança. Como podem opinar sobre o que não viveram?
Posso
imaginar a tristeza de uma criança que não tem pai, porque perdi o meu muito
cedo. Assim como posso imaginar a alegria de uma criança abandonada que passa a
ter dois pais ou duas mães, que passa a receber cuidados, atenção, amor.
Conheço famílias em que irmãos assumem a criação de irmãos, famílias diferentes
e que suas diferenças não fizeram seres menos humanos.
Aliás,
é curioso que os valores sejam invertidos, convertidos, confundidos... A bicha
má da novela é um sucesso, enquanto o casal gay que quer adotar é rotulado como
mau. Nem o intervalo comercial me dá sossego: propaganda de cerveja se vale de
atrizes que representam mulheres fúteis, tentando vender seu produto para
homens (ou babacas?) e menosprezando a parcela feminina que poderia adquirir a
marca. Mudei de marca! Mudei o canal!
Estou
cada vez mais confusa, gente.
Também
li no jornal de domingo (02/06) que o trabalho infantil não foi erradicado como
os pseudo-benfeitores das crianças pretendiam. “Trabalho infantil expõe 1,9
milhões a riscos”.
-
E a fome, o tráfico, o vazio mental?
Sempre
fui encorajada a trabalhar, a conquistar minha dignidade através do meu
esforço. O que há de errado nisso? Só estaria errado se eu deixasse de lado a
escola ou deixasse de ser feliz em razão do trabalho. A criança que se orgulha
de ter seu próprio dinheiro não é presa fácil para o traficante; quer crescer
ainda mais, com o auxílio de boa escolaridade; geralmente não se torna vítima
de depressão e outras doenças mentais. Sua autoestima é alta. O problema é que
ela aprende a pensar suas relações de trabalho e seu sucesso termina por
quebrar o círculo vicioso que produz votos no curral.
Ao
longo da história tenho visto muitas incoerências, discursos hipócritas e
torpes, disfarçando nossa preguiça em assumir nossos problemas. É muita lei
sendo despejada em cima da gente, sem que nossa opinião seja levada em conta.
Ou seja, não se pergunta nada a quem mais interessa... Eles decidem e baixam
toda a sorte de maluquices “pro nosso bem” (sic.).
Vejo
comentários, nos sites de relacionamento, sobre todo tipo de bolsa: família, crack,
prostituta, detenção. Algumas nem sei se são verdades. Nem procuro saber. Não
tenho mais uma pressão arterial que suporte essas coisas. Felizmente nunca
precisei utilizar tais benefícios, mas se o fizesse, seria com a
responsabilidade de realmente estar em condições de necessidade.
Pra
cúpula, fica muito fácil:
- Dá
uma esmolinha e deixa o mundo correr... Cuidar dá muito trabalho...
Quando
nos deveria interessar apenas uma lei, mas essa ainda não cabe em nosso
orgulho, nem em nossa vaidade. Trata-se de “amar ao próximo como a ti mesmo”.
Em
suma, quando vemos ou vivemos alguma situação dúbia, devemos sempre nos
perguntar: é interesse de quem? a quem interessa?
Izaída
Stela do Carmo Ornelas