sábado, 30 de outubro de 2010

DIVINO PERGUNTA


Mais de um século se passou desde que a vila gerou minha semente de cidade. Muitos personagens desfilaram em minha história. Muitos filhos eu tive...
Eles aqui nasceram, se criaram com o produto de meu solo, se divertiram banhando-se em minhas cachoeiras. Se nutriram de meu sol, se vestiram com a riqueza que lhes pude oferecer. Banquetearam-se com meu gado, deliciaram-se em mim.
Hoje esses filhos blasfemam, repudiam sua origem divinense, porque sou pequeno, humilde e decadente. Como os pais humanos colocados em asilos, igualmente me sinto.
Onde estão meus filhos? Aqueles cujos estudos sustentei sonhando que fossem Juízes de Fora e buscassem para mim flores Viçosas. Acreditando que eles fariam mais Belos meus Horizontes, sarassem as enchentes de meu Rio em Janeiro e tantas outras coisas.
Com o fruto de mim fez-se o conhecimento em suas mentes. Com o conhecimento, a distância. Com a distãncia, o abandono - com gosto de escárnio.
Os irmãos remanescentes - abandonados à própria sorte, carentes de pão, de conhecimento. Abandonados mais e mais...
Apelo aos filhos de minha naturalidade apoio e atenção - a mim e a seus irmãos. No peito, saudade. Saudade de ação e de amor. No coração, esperança. Esperança...
Onde estão meus filhos?
Mas com certeza eles virão. De toda parte. E me tornarão Porto Alegre de prosperidade. Repartirão com cada irmão o Mundo recebido.
Aqui espero, meus filhos.

sábado, 23 de outubro de 2010

BONZINHO...



Maiakowsky escreveu:

Na primeira noite eles se aproximam
e colhem uma flor em nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite,
Já não se escondem:
pisam nas flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.

Até que um dia
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.


A força maior do mal está na omissão dos bons.
Este é meu alerta para os bons divinenses, aos bons brasileiros.

Onde está a expressão do bem? Onde está a força dos bons?

Não é teoria da conspiração. É a mais pura verdade. Existe um movimento sórdido, planejado em detalhes, para o “esvaziamento” da razão dos bons. Ele começou na segunda metade do século passado e vem se arrastando desde então, permeando os mais diversos governos. Parece até tratar-se de uma sociedade secreta.

Primeiro, no que diz respeito à educação.
- Com tantos problemas, a gente dá um jeitinho e passa nossos filhos para a rede particular.
- Que se dane quem ficou, pelo menos eu não tive que me indispor com ninguém.
- Bom que eu tenho como fugir disso...
E o governo deixou de gastar com nossos filhos...


Depois, a saúde começou a degringolar. Exames demoram e os atendimentos deixam a desejar.
– Já que eu posso, vou contratar um plano de saúde.
– Compensa pagar um plano de saúde.
- Deixo de comprar muitas coisas, mas pago em dia meu plano de saúde!
E compensa mais é pro governo, que deixa de usar o SEU imposto em SEU benefício...

A seguir, veio a onda de privatizações, quando o governo vendeu empresas lucrativas a preço de banana. E deu uma banana pro povão. Corremos agora o risco de perder a Petrobras. Está nos planos da súcia.

O próximo passo previsto é o esvaziamento da previdência. Com “rombos” faraônicos, a panelinha que gerencia esse plano de esvaziamento pretende transferir a obrigação previdenciária estatal para os planos privados.

Claro que a sobra vai fazer uma verdadeira festa pra corrupção...

Acoooooooorda povo!!!

Vamos EXIGIR educação, saúde, emprego e previdência em contrapartida JUSTA aos impostos que pagamos.

É justo pagar religiosamente um carnê de INSS sobre X salários e aposentar-se com um valor muito menor? É como comprar uma TV digital de 42 polegadas, pagar por ela, e receber um aparelho comum de 20! É a farra do “só leva quem não paga”!

É justo manter em dia suas obrigações e ter que esperar tanto tempo pra fazer um simples exame? Se a gente deixa o imposto atrasado... Mas quando o governo deixa nossa vida atrasada...

O pior é que estamos deixando essa herança terrível para nossos filhos. Por isso a educação foi a primeira instituição a ser sucateada.

E aí, bonzinho....

Dá pra ficar calado???

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

UM DIA NA CASA ESPÍRITA


“Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, eu com elas estarei.” (S. MATEUS, cap. XVIII, v. 20.)



Muitas pessoas têm vontade de saber o que se passa em uma reunião espírita. Em atenção a elas, nos propusemos a relatar aqui a rotina de uma de nossas reuniões, com honestidade e clareza – características de um texto jornalístico. Para que o leitor possa melhor compreender, faremos isso sob dois pontos de vista - o materialista e o espiritualista – que permitirão o didático recurso da comparação.



NARRATIVA MATERIALISTA

É segunda-feira. Um componente do grupo espírita se ocupa em limpar o salão, organizar os livros, filtrar a água e deixar pronto o ambiente físico para os estudos da noite.

Mais tarde, na mesma sala simples, às sete e quinze da noite, vemos uma mesa preparada para estudos do Evangelho. No cômodo ao lado, uma biblioteca oferece centenas de títulos de livros para venda, empréstimo e consultas. As pessoas vão chegando: algumas são freqüentadoras assíduas e adeptas do espiritismo; outras são visitantes e convidados, que se interessaram em conhecer a doutrina kardecista; outras ainda vêm por pura curiosidade acerca do desconhecido. São todos bem-vindos.

Música suave convida à meditação. Sobre a mesa, uma jarra com água, exemplares do Evangelho Segundo o Espiritismo e um livro de preces, onde são escritos os nomes das pessoas para as quais solicitamos uma atenção especial da espiritualidade. Como numa grande equipe com o objetivo de executar trabalhos escolares, todos se sentam à mesa e recebem um Evangelho.

Às sete e meia, uma prece inicial é feita pelo dirigente da reunião. Nessa prece pede-se licença a Deus para o começo dos trabalhos de estudo, em nome de Jesus. Alguém abre o Evangelho ‘ao acaso’ e lê o trecho que foi selecionado pela espiritualidade. O motivo da reunião é Jesus. Ali o diálogo respeita sempre a ética do Cristo, levando-se em consideração o que Ele faria em determinada circunstância. Todos participam com idéias, perguntas e experiências partilhadas. Os temas são variados: amar os inimigos, a necessidade da caridade, o emprego do dinheiro, a conduta, a fé religiosa, por exemplo.

Entretanto, o maior tema proposto por Ele é a nossa Reforma Íntima. É a partir da modificação de nós mesmos, tendo como modelo a vida d’Ele, que conseguiremos a melhoria do mundo. Começando com o que temos à mão, ou seja, nós mesmos, podemos desenvolver nossas qualidades e procurar um jeito melhor – e mais honesto - de lidar com nossos defeitos. É a verdadeira construção de nossa dignidade, a partir da desconstrução de nossos preconceitos e de nossa ignorância acerca de nós mesmos e, conseqüentemente, do mundo. Como o velho filósofo ensinava: uma educação de dentro para fora.

Oito e quinze. Intuitivamente, o dirigente solicita a um dos presentes que abra, ‘ao acaso’, e leia um capítulo de um livro de mensagens. O comentário final da espiritualidade sempre “fecha com chave de ouro” (licença para uso do chavão) o assunto em pauta, concluindo e convidando a novas considerações.

Uma prece encerra o estudo, pedindo a fluidificação da água que será distribuída aos presentes, agradecendo a oportunidade de conhecimento e o auxílio precioso dos benfeitores espirituais presentes. A água magnetizada pelas energias do estudo é distribuída a todos. Está finalizada a reunião, que costumamos chamar de ‘bate-papo com Jesus’.

A Casa Espírita estará aberta novamente para a próxima reunião.



NARRATIVA ESPIRITUALISTA

É segunda-feira. Durante todo o dia os mentores da Casa Espírita estão envolvidos com muito trabalho. Como anjos da guarda, eles cuidam do ambiente espiritual correspondente ao ambiente material e também de cada uma das pessoas que pretendem comparecer à reunião da noite. Problemas e cuidados ocupam o tempo, que passa depressa.

São sete e quinze da noite. Numa dimensão paralela à sala simples, vemos uma mesa preparada para estudos do Evangelho. A construção espiritual não é muito diferente da casa material que vemos. As pessoas também vão chegando: são desencarnados com toda a sorte de problemas, alguns acreditando-se ainda vivos, outros precisando de ajuda, de conselho, de energia, enfim, todos em busca de Amor. São todos bem-vindos.

Música suave convida à meditação. Às sete e meia, uma prece inicial é feita pelo dirigente da reunião, sob as bênçãos do Cristo. Alguém abre o Evangelho, conforme determinação dos mentores da Casa - ditada por intuição - e lê o trecho selecionado. O motivo da reunião é Jesus. Ele quer que todos recebam Sua Justiça, Seus ensinamentos, Sua mensagem.

Os ouvintes são variados: suicidas, assassinos, senhores de escravos, ladrões, hipócritas, enganadores, todos nossos irmãos. Todos feitos à imagem e semelhança de nosso Pai, como nós. Eles se sentem reconfortados na atmosfera de amor, de solidariedade e de busca de conhecimento que encontram. É mais uma lição de doação que aprendemos: nossas energias auxiliam no tratamento desses irmãos em dificuldades, como se a Casa fosse um pronto-socorro que os prepara para o atendimento num hospital especial.

Oito e quinze. O comentário final da espiritualidade é escolhido de modo a concluir o assunto e solucionar dúvidas que não tenham sido expressas verbalmente. Ao desencarnados são atendidos. Enquanto isso, uma equipe de benfeitores trata de avaliar o estado físico-espiritual de cada componente encarnado da mesa, a fim de colocar na água os elementos específicos necessários à saúde e ao equilíbrio do corpo e da mente.

Uma prece encerra o estudo, agradecendo ao Pai a oportunidade de aprender e servir. Bênçãos se expandem em busca das pessoas do livro de preces; dos presentes, de seus familiares, amigos e inimigos; dos necessitados encarnados e desencarnados que a espiritualidade houver - por necessidade ou merecimento - atender.

A Casa Espírita acolherá nova reunião.

sábado, 9 de outubro de 2010

QUÍMICA

"Por duas esferas azuis
de entre pétalas de borboleta" (Ferreira Gullar)


um átomo cedeu-se a outro
numa calma manhã de chuva.

Que pequenas!
        Que ínfimas!
               Que insignificantes partículas!
                       Azuis...

Nesse dia - mais tarde sem chuva -
esses dois cúmplices calculistas
planejaram um ato de fé ambiciosa
e se organizaram cautelosos
na estrutura simples de um botão:

Natural,
      contente de si
           e palpitante ao desabrochar
                    assim...

E tudo começou
por duas esferas azuis,
de entre pétalas de borboleta,
pintando aqui e acolá
                   flores.
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