“Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, eu com elas estarei.” (S. MATEUS, cap. XVIII, v. 20.)
Muitas pessoas têm vontade de saber o que se passa em uma reunião espírita. Em atenção a elas, nos propusemos a relatar aqui a rotina de uma de nossas reuniões, com honestidade e clareza – características de um texto jornalístico. Para que o leitor possa melhor compreender, faremos isso sob dois pontos de vista - o materialista e o espiritualista – que permitirão o didático recurso da comparação.
NARRATIVA MATERIALISTA
É segunda-feira. Um componente do grupo espírita se ocupa em limpar o salão, organizar os livros, filtrar a água e deixar pronto o ambiente físico para os estudos da noite.
Mais tarde, na mesma sala simples, às sete e quinze da noite, vemos uma mesa preparada para estudos do Evangelho. No cômodo ao lado, uma biblioteca oferece centenas de títulos de livros para venda, empréstimo e consultas. As pessoas vão chegando: algumas são freqüentadoras assíduas e adeptas do espiritismo; outras são visitantes e convidados, que se interessaram em conhecer a doutrina kardecista; outras ainda vêm por pura curiosidade acerca do desconhecido. São todos bem-vindos.
Música suave convida à meditação. Sobre a mesa, uma jarra com água, exemplares do Evangelho Segundo o Espiritismo e um livro de preces, onde são escritos os nomes das pessoas para as quais solicitamos uma atenção especial da espiritualidade. Como numa grande equipe com o objetivo de executar trabalhos escolares, todos se sentam à mesa e recebem um Evangelho.
Às sete e meia, uma prece inicial é feita pelo dirigente da reunião. Nessa prece pede-se licença a Deus para o começo dos trabalhos de estudo, em nome de Jesus. Alguém abre o Evangelho ‘ao acaso’ e lê o trecho que foi selecionado pela espiritualidade. O motivo da reunião é Jesus. Ali o diálogo respeita sempre a ética do Cristo, levando-se em consideração o que Ele faria em determinada circunstância. Todos participam com idéias, perguntas e experiências partilhadas. Os temas são variados: amar os inimigos, a necessidade da caridade, o emprego do dinheiro, a conduta, a fé religiosa, por exemplo.
Entretanto, o maior tema proposto por Ele é a nossa Reforma Íntima. É a partir da modificação de nós mesmos, tendo como modelo a vida d’Ele, que conseguiremos a melhoria do mundo. Começando com o que temos à mão, ou seja, nós mesmos, podemos desenvolver nossas qualidades e procurar um jeito melhor – e mais honesto - de lidar com nossos defeitos. É a verdadeira construção de nossa dignidade, a partir da desconstrução de nossos preconceitos e de nossa ignorância acerca de nós mesmos e, conseqüentemente, do mundo. Como o velho filósofo ensinava: uma educação de dentro para fora.
Oito e quinze. Intuitivamente, o dirigente solicita a um dos presentes que abra, ‘ao acaso’, e leia um capítulo de um livro de mensagens. O comentário final da espiritualidade sempre “fecha com chave de ouro” (licença para uso do chavão) o assunto em pauta, concluindo e convidando a novas considerações.
Uma prece encerra o estudo, pedindo a fluidificação da água que será distribuída aos presentes, agradecendo a oportunidade de conhecimento e o auxílio precioso dos benfeitores espirituais presentes. A água magnetizada pelas energias do estudo é distribuída a todos. Está finalizada a reunião, que costumamos chamar de ‘bate-papo com Jesus’.
A Casa Espírita estará aberta novamente para a próxima reunião.
NARRATIVA ESPIRITUALISTA
É segunda-feira. Durante todo o dia os mentores da Casa Espírita estão envolvidos com muito trabalho. Como anjos da guarda, eles cuidam do ambiente espiritual correspondente ao ambiente material e também de cada uma das pessoas que pretendem comparecer à reunião da noite. Problemas e cuidados ocupam o tempo, que passa depressa.
São sete e quinze da noite. Numa dimensão paralela à sala simples, vemos uma mesa preparada para estudos do Evangelho. A construção espiritual não é muito diferente da casa material que vemos. As pessoas também vão chegando: são desencarnados com toda a sorte de problemas, alguns acreditando-se ainda vivos, outros precisando de ajuda, de conselho, de energia, enfim, todos em busca de Amor. São todos bem-vindos.
Música suave convida à meditação. Às sete e meia, uma prece inicial é feita pelo dirigente da reunião, sob as bênçãos do Cristo. Alguém abre o Evangelho, conforme determinação dos mentores da Casa - ditada por intuição - e lê o trecho selecionado. O motivo da reunião é Jesus. Ele quer que todos recebam Sua Justiça, Seus ensinamentos, Sua mensagem.
Os ouvintes são variados: suicidas, assassinos, senhores de escravos, ladrões, hipócritas, enganadores, todos nossos irmãos. Todos feitos à imagem e semelhança de nosso Pai, como nós. Eles se sentem reconfortados na atmosfera de amor, de solidariedade e de busca de conhecimento que encontram. É mais uma lição de doação que aprendemos: nossas energias auxiliam no tratamento desses irmãos em dificuldades, como se a Casa fosse um pronto-socorro que os prepara para o atendimento num hospital especial.
Oito e quinze. O comentário final da espiritualidade é escolhido de modo a concluir o assunto e solucionar dúvidas que não tenham sido expressas verbalmente. Ao desencarnados são atendidos. Enquanto isso, uma equipe de benfeitores trata de avaliar o estado físico-espiritual de cada componente encarnado da mesa, a fim de colocar na água os elementos específicos necessários à saúde e ao equilíbrio do corpo e da mente.
Uma prece encerra o estudo, agradecendo ao Pai a oportunidade de aprender e servir. Bênçãos se expandem em busca das pessoas do livro de preces; dos presentes, de seus familiares, amigos e inimigos; dos necessitados encarnados e desencarnados que a espiritualidade houver - por necessidade ou merecimento - atender.
A Casa Espírita acolherá nova reunião.