No
Evangelho Segundo o Espiritismo, obra de Allan Kardec, encontramos a seguinte
definição: “A prece é o orvalho divino que aplaca o calor excessivo das
paixões. Filha primogênita da fé, ela nos encaminha para a senda que nos conduz
a Deus.” Mais adiante, os espíritos advertem: “ A forma nada vale, o
pensamento é tudo. Ore, pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que
mais o toque. Um bom pensamento vale mais do que um grande número de palavras
com as quais nada tenha o coração.”
A
prece começa, então com um bom pensamento, aliado a uma boa intenção traduzida
por uma vida de caridade e fraternidade. São Marcos aconselha que perdoemos
nossos inimigos, antes de orar (cap. XI, vv.25-26). Aqueles a quem nós ainda
não “damos conta” de amar também são filhos do Pai, que precisam de bênçãos da
mesma forma que nós. O nosso perdão é uma bênção imensa, atingindo e iluminando
quem perdoa e quem é perdoado. O ambiente em que estamos se torna mais saudável
para a uma conversa com o Criador.
Quando
oramos, não convém que o façamos de forma a chamar a atenção, como os
hipócritas descritos por São Mateus (cap. VI, vv.5-8), que agindo dessa forma
recebem sua recompensa já no fato de aparecer para os demais. Nosso ser,
através da prece, deseja estar em contato íntimo com o Pai que habita em nosso
coração. Não há necessidade de gritar e nem de repetir fórmulas que utilizam os
lábios, mas não o coração. O silêncio aparente conforta. A criança com dor,
quando aconchegada ao colo de mãe, recebendo carinho, melhora. A eficácia da
prece é incontestável. A felicidade que a comunicação com Deus nos proporciona
é indescritível. Os resultados são sentidos de forma muito plena por aquele que
crê.
São
Mateus (cap. VII, vv. 7-11) explica a resposta divina às preces que fazemos com
a seguinte comparação: “Qual o homem, dentre vós, que dá uma pedra ao filho
que lhe pede pão? – Ou, se pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? – Ora, se
sendo maus como sois, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, não é lógico que,
com mais forte razão, vosso Pai que está nos céus dê os bens verdadeiros aos
que lhos pedirem?” Nosso Pai nos conhece. Sabe o que precisamos para nossa
evolução integral e o que merecemos pelo trabalho físico e moral que
realizamos. Mesmo que nossa condição de ignorantes não nos permita entender o
real valor do que recebemos, nossa fé nos deve conduzir à extrema confiança
n’Ele. Nosso Pai tem a suprema sabedoria e nos demonstra a cada momento o seu
amor infinito, mesmo que não percebamos. Afinal, agimos como crianças, pedindo
o que não nos pode ser dado, o que nos fará mal, o que não vale a pena possuir.
Os
males da vida se dividem em duas partes, uma constituída pelos males que o
homem não pode evitar e a outra das dívidas que ele mesmo contraiu por seus
excessos ou omissões, sendo que a segunda parte é bem maior que a primeira,
ensina Kardec. Então, grande é o conjunto das coisas que podemos mudar com
nossa conduta, com cuidado moral, com fé, esperança e prece.
E
para que não nos esqueçamos da lei de solidariedade, os espíritos mostram que a
prece coletiva tem maior força, visto que “quando todos os que oram se
associam de coração a um mesmo pensamento e colimam o mesmo objetivo, é como se
muitos clamassem juntos e em um só som.” Façamos juntos nossas preces, como
verdadeiros irmãos de Cristo. Comecemos por pedir perdão para nós mesmos, por
perdoarmos a nossos inimigos como a nós mesmos, por enviarmos um pensamento de
paz para o mundo. Peçamos o auxílio àqueles irmãos que ainda não conhecem os benefícios
do contato com o Amor, os que fazem sofrer. Estes precisam mais...
Um
irmão nos dá o exemplo de como fazê-lo:
PRECE DE CERINTO
Senhor de Infinita Bondade,
no santuário da oração, marco
renovador do meu caminho, não te peço por mim, espírito endividado, para quem
reservaste os tribunais de tua Excelsa Justiça.
A tua compaixão é como se fora
o orvalho da esperança em minha noite moral e isso basta ao revel pecador que
tenho sido.
Não te peço, Senhor, pelos que
choram.
Clamo teu amor a benefício dos
que fazem as lágrimas.
Não te venho pedir pelos que
padecem.
Suplico-te a benção para todos
aqueles que provocam o sofrimento.
Não te lembro os fracos da
Terra.
Recordo-te quantos se julgam
poderosos e vencedores.
Não intercedo pelos que soluçam
de fome.
Rogo-te amor para os que furtam
o pão.
Senhor Todo-Bondoso!...
Não te trago os que sangram de
angústia.
Relaciono diante de ti os que
golpeiam e ferem.
Não te peço pelos que sofrem
injustiças.
Rogo-te pelos empreiteiros do
crime.
Não te apresento os desprotegidos
da sorte.
Depreco teu amparo aos que
estendem a aflição e a miséria.
Não te imploro a mercê para as
almas traídas.
Exoro-te o socorro para os que
tecem os fios envenenados da ingratidão.
Pai compassivo!...
Estende as mãos sobre os que
vagueiam nas trevas...
Anula o pensamento insensato.
Cerra os lábios que induzem à
tentação.
Paralisa os braços que
apedrejam.
Detém os passos daqueles que
distribuem a morte...
Ajuda-nos a todos nós, os
filhos do erro, porque somente assim, ó Deus piedoso e justo, poderemos
edificar o paraíso do bem com todos aqueles que já te compreendem e obedecem,
extinguindo o inferno daqueles que, como nós, se atiram, desprevenidos, aos
insanos torvelinhos do mal!...
Cerinto
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