sábado, 28 de julho de 2012

A prece, segundo o Espiritismo





No Evangelho Segundo o Espiritismo, obra de Allan Kardec, encontramos a seguinte definição: “A prece é o orvalho divino que aplaca o calor excessivo das paixões. Filha primogênita da fé, ela nos encaminha para a senda que nos conduz a Deus.” Mais adiante, os espíritos advertem: “ A forma nada vale, o pensamento é tudo. Ore, pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que mais o toque. Um bom pensamento vale mais do que um grande número de palavras com as quais nada tenha o coração.”
A prece começa, então com um bom pensamento, aliado a uma boa intenção traduzida por uma vida de caridade e fraternidade. São Marcos aconselha que perdoemos nossos inimigos, antes de orar (cap. XI, vv.25-26). Aqueles a quem nós ainda não “damos conta” de amar também são filhos do Pai, que precisam de bênçãos da mesma forma que nós. O nosso perdão é uma bênção imensa, atingindo e iluminando quem perdoa e quem é perdoado. O ambiente em que estamos se torna mais saudável para a uma conversa com o Criador.
Quando oramos, não convém que o façamos de forma a chamar a atenção, como os hipócritas descritos por São Mateus (cap. VI, vv.5-8), que agindo dessa forma recebem sua recompensa já no fato de aparecer para os demais. Nosso ser, através da prece, deseja estar em contato íntimo com o Pai que habita em nosso coração. Não há necessidade de gritar e nem de repetir fórmulas que utilizam os lábios, mas não o coração. O silêncio aparente conforta. A criança com dor, quando aconchegada ao colo de mãe, recebendo carinho, melhora. A eficácia da prece é incontestável. A felicidade que a comunicação com Deus nos proporciona é indescritível. Os resultados são sentidos de forma muito plena por aquele que crê.
São Mateus (cap. VII, vv. 7-11) explica a resposta divina às preces que fazemos com a seguinte comparação: “Qual o homem, dentre vós, que dá uma pedra ao filho que lhe pede pão? – Ou, se pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? – Ora, se sendo maus como sois, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, não é lógico que, com mais forte razão, vosso Pai que está nos céus dê os bens verdadeiros aos que lhos pedirem?” Nosso Pai nos conhece. Sabe o que precisamos para nossa evolução integral e o que merecemos pelo trabalho físico e moral que realizamos. Mesmo que nossa condição de ignorantes não nos permita entender o real valor do que recebemos, nossa fé nos deve conduzir à extrema confiança n’Ele. Nosso Pai tem a suprema sabedoria e nos demonstra a cada momento o seu amor infinito, mesmo que não percebamos. Afinal, agimos como crianças, pedindo o que não nos pode ser dado, o que nos fará mal, o que não vale a pena possuir.
Os males da vida se dividem em duas partes, uma constituída pelos males que o homem não pode evitar e a outra das dívidas que ele mesmo contraiu por seus excessos ou omissões, sendo que a segunda parte é bem maior que a primeira, ensina Kardec. Então, grande é o conjunto das coisas que podemos mudar com nossa conduta, com cuidado moral, com fé, esperança e prece.
E para que não nos esqueçamos da lei de solidariedade, os espíritos mostram que a prece coletiva tem maior força, visto que “quando todos os que oram se associam de coração a um mesmo pensamento e colimam o mesmo objetivo, é como se muitos clamassem juntos e em um só som.” Façamos juntos nossas preces, como verdadeiros irmãos de Cristo. Comecemos por pedir perdão para nós mesmos, por perdoarmos a nossos inimigos como a nós mesmos, por enviarmos um pensamento de paz para o mundo. Peçamos o auxílio àqueles irmãos que ainda não conhecem os benefícios do contato com o Amor, os que fazem sofrer. Estes precisam mais...
Um irmão nos dá o exemplo de como fazê-lo:

PRECE DE CERINTO

Senhor de Infinita Bondade,
no santuário da oração, marco renovador do meu caminho, não te peço por mim, espírito endividado, para quem reservaste os tribunais de tua Excelsa Justiça.
A tua compaixão é como se fora o orvalho da esperança em minha noite moral e isso basta ao revel pecador que tenho sido.
Não te peço, Senhor, pelos que choram.
Clamo teu amor a benefício dos que fazem as lágrimas.
Não te venho pedir pelos que padecem.
Suplico-te a benção para todos aqueles que provocam o sofrimento.
Não te lembro os fracos da Terra.
Recordo-te quantos se julgam poderosos e vencedores.
Não intercedo pelos que soluçam de fome.
Rogo-te amor para os que furtam o pão.
Senhor Todo-Bondoso!...
Não te trago os que sangram de angústia.
Relaciono diante de ti os que golpeiam e ferem.
Não te peço pelos que sofrem injustiças.
Rogo-te pelos empreiteiros do crime.
Não te apresento os desprotegidos da sorte.
Depreco teu amparo aos que estendem a aflição e a miséria.
Não te imploro a mercê para as almas traídas.
Exoro-te o socorro para os que tecem os fios envenenados da ingratidão.
Pai compassivo!...
Estende as mãos sobre os que vagueiam nas trevas...
Anula o pensamento insensato.
Cerra os lábios que induzem à tentação.
Paralisa os braços que apedrejam.
Detém os passos daqueles que distribuem a morte...
Ajuda-nos a todos nós, os filhos do erro, porque somente assim, ó Deus piedoso e justo, poderemos edificar o paraíso do bem com todos aqueles que já te compreendem e obedecem, extinguindo o inferno daqueles que, como nós, se atiram, desprevenidos, aos insanos torvelinhos do mal!...

                                                                                     Cerinto

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